Movimento da Nova Economia
Activistas, teóricos,
organizações e cidadãos comuns estão a reconstruir o sistema
político-económico norte-americano a partir do zero.
Com a evolução do
sistema político, uma onda de pensamento inovador e de experiências
ousadas está a criar novos modelos económicos. Esta "nova
visão económica” é um movimento vital que está a ganhar força
e está prestes a explodir numa nova consciência pública. O
"Movimento Nova Economia" está a começar a desenvolver-se
num encontro de organizações, projectos, activistas, teóricos e
cidadãos comuns comprometidos com a reconstrução do sistema
político-económico norte-americana a partir do zero.
O objectivo
geral é democratizar a propriedade da economia para os "99 por
cento" da população num meio ambiente sustentável e
participativo numa nova forma de construção da comunidade,
representado por uma actuação prática desenvolvida no aqui e
agora.
Milhares de projectos da vida do dia-a-dia – como por
exemplo a produção de energia solar para as empresas auto-geridas,
cooperativas e bancos estatais - estão em andamento por todo os EUA.
Muitos projectos são conscientemente empreendidos como uma tentativa
para desenvolver protótipos que funcionem em localidades e estados,
verdadeiros "laboratórios da democracia" que poderão ser
aplicados numa escala regional e nacional, quando o momento certo
político for oportuno.
O movimento inclui jovens e idosos,
pessoas do movimento "ocupar", activistas estudantis, que
um participante descreve como milhares de "pessoas de 60 anos
dos anos 60" arregaçando as mangas para aplicar algumas das
lições de um movimento anterior.
Explosão de Energia
Esta
forte tendência da aplicação na prática inclui uma gama de
modelos económicos que mudam tanto a propriedade como têm em conta
os resultados ecológicos. As Cooperativas, por exemplo, estão a ser foco
de uma atenção particular, especialmente por aqueles que enfatizam
a participação e as preocupações verdes. As Cooperativas
“Evergreen” de um bairro extremamente pobre, predominantemente
negro de Cleveland, Ohio, são um exemplo de liderança. Incluem uma
instalação auto-sugestionaria solar e climatização cooperativa, uma
lavandaria industrial em escala comercial num edifício certificado
que utiliza apenas cerca de um terço da água de outras lavandarias,
e uma grande estufa hidropónica capaz de produzir três milhões de
alfaces e 300.000 quilos de verdura por ano. Hospitais e
universidades na área concordaram em usar os serviços cooperativos.
As cidades de Pittsburgh, Atlanta, Washington e Amarillo, no Texas,
estão já a estudar iniciativas semelhantes.

Há mais modelos que
se encaixam no que Marjorie Kelly considera "economia geradora"
que convidam as comunidades e respeitar o meio ambiente natural. A
“Organic Valley” é um produtor de leite cooperativo baseado em
Wisconsin com mais de US $ 700 milhões em receitas e cerca de 1.700
agricultores proprietários. A “Upstream Corporation 21” é uma
holding "socialmente responsável" de compras sustentáveis
e que apoia pequenas empresas. A “Greyston Bakery” é uma
padaria de Nova Iorque (um novo tipo de sociedade – "B-Corporation"
- concebida para beneficiar o público) que foi fundada inicialmente
para gerar empregos para os moradores do bairro. Hoje, a Greystone
gera cerca de US $ 6,5 milhões em vendas anuais.
Recentemente, o
sindicato “United Steelworker”s quebrou a tradição do movimento
e fez num acordo histórico com a Cooperativa Mondragón e o Centro
de Empregado de Ohio para ajudar a constituir cooperativas nos
Estados Unidos com base num novo modelo de união cooperativa.
O
movimento também está a ser importante quando se baseia nos modelos
anteriores já existentes. Mais de 130 milhões de americanos, de
facto, já pertencem a uma ou outra forma de cooperativa,
especialmente sob a forma mais conhecida: a União de Crédito. Da
mesma forma, existem cerca de 2.000 utilizadores das propriedades
municipais, um grande número ecológicas. (Vinte e cinco por cento
da electricidade nos Estados Unidos é fornecido por cooperativas e
serviços públicos). Mais de 10 milhões de americanos trabalham
agora em cerca de 11.000 empresas propriedade dos empregados
(empresas ESOP).
Centenas de "empresas sociais" usam os
seus lucros para objectivos sociais ou para beneficiarem a comunidade
que servem. Além desses esforços, cerca de 4.500 empresas de
desenvolvimento comunitário e 1,5 milhões de organizações sem
fins lucrativos operam actualmente em todos os estados dos Estados
Unidos.
Esta Nova Economia também é representada pelo movimento
"Move Your Money" (Transfiram o Vosso Dinheiro) e pelas
campanhas de "Transferências Bancárias" - tentativas para
deslocar milhões de dólares de empresas gigantes como o “Bank of
America” para instituições bancárias democráticas ou
comunitárias. Desde 2010, 17 estados, por exemplo, alteraram a sua
legislação para permitir criar bancos públicos, como por exemplo o
Banco de Dakota do Norte.
Várias cidades, incluindo Los Angeles e
Kansas City, criaram legislação de "responsabilidade
bancária" que exigem que os bancos revelem o seu impacto
na comunidade e/ou solicitando aos funcionários municipais para só
fazer negócios com bancos que respondam às necessidades da
comunidade. Outras cidades, como San José e Portland, estão a
desenvolver esforços para retirar o seu dinheiro de bancos de Wall
Street e outros bancos comerciais e os colocar em bancos comunitários
ou cooperativas de crédito. Políticos e activistas em San Francisco
propuseram já a criação de um banco de propriedade pública
municipal.

Há
também uma série de bancos inovadores não-públicos, não
cooperativos, incluindo o Banco de Novos Recursos, em San Francisco,
fundada em 2006, "com a visão de dar novos recursos para
empresas sustentáveis e, finalmente, promover a criação de
comunidades mais sustentáveis." Da mesma forma, o “Pacific
Coast Bank”, com sede em Oakland, nasceu do desejo de "criar
uma sociedade sustentável” sendo um banco de desenvolvimento
comunitário com uma organização sem fins lucrativos de apoio. O
“One United Bank”, o maior banco propriedade de negros do país,
com escritórios em Los Angeles, Boston e Miami, financiou já mais
de US $ 1 bilhão em empréstimos, a maioria em bairros de poucos
rendimentos.
Por outro lado, e em várias partes do país, têm
sido criadas moedas alternativas para ajudar as empresas locais de
construção nomeadamente "Berkshares", em Great
Barrington, Massachusetts, e "Horas de Ithaca” na cidade de
Ithaca, Nova Iorque.
Várias iniciativas de protesto estão também
em andamento. O Movimento Ocupar, juntamente com muitos outros, tem
usado cada vez mais a acção directa de apoio ao novo sistema
bancário. A 24 de Abril um milhar de pessoas protestaram contra as
práticas bancárias durante a reunião de accionistas da “Wells
Fargo” de San Francisco. Acções semelhantes, algumas envolvendo
"ocupações" físicas de agências bancárias, estão a
ocorrer em muitas partes dos EUA desde que o movimento começou as
ocupações em 2011. Grandes manifestações decorreram durante a
reunião anual de accionistas do “Banco da América” em Maio de
2012.
Em Março de 2012, o Fórum de Esquerda, realizada em Nova
Iorque também ouviu muitos apelos para um retorno às
nacionalizações e ao regresso do "small is beautiful" –
o pequeno é belo, princípio defendido pelo falecido economista EF
Schumacher, que defende que quando chegamos a grandes empresas, a
ideia de propriedade privada se torna um absurdo.

Grandes
desafios
O Movimento Nova Economia já está fortemente
envolvido numa grande variedade de de actividades, mas enfrenta
desafios em grande escala. O primeiro deles deriva da tarefa que se
propôs de mudar e democratizar a própria essência da estrutura
institucional do sistema económico norte-americano.
Mesmo visto
como um objectivo de longo prazo, o movimento, obviamente, enfrenta o
enorme poder do sistema político-económico norte-americano dominado
pelos grandes bancos e por muitos interesses corporativos apoiados
por políticas fortemente dependentes do poder financeiro das elites.
(Um cálculo recente indica que apenas 400 indivíduos possuem mais
riqueza do que os restantes 160 milhões).
Um segundo desafio
fundamental deriva da consciência cada vez mais generalizada de que
o crescimento económico deve finalmente ser reduzido, na verdade,
até, possivelmente, já terminou se se pretender evitar os perigos
resultantes das alterações climáticas e se se tiver em conta
outros limites ambientais que devem ser tratadas de forma
responsável.
Para complicar tudo há ainda a considerar o facto
de que os sindicatos tradicionais, da maioria dos trabalhadores,
considerarem o crescimento como absolutamente essencial (tal como a
economia está agora organizado) para a manutenção de empregos.
*Gar Alperovitz com
Lionel R. Bauman - professor de Economia Política na Universidade de
Maryland, é um dirigente e fundador do movimento Democracy
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