2013/09/24

Alternativas

Aqui fica parte da introdução do livro "A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes" (Edições Tinta da China).



“Como veremos adiante, se é verdade que não faltam exemplos de má governação no passado recente, as condições que conduziram à crise começaram a avolumar-se há duas décadas, fruto da conjugação de uma integração europeia disfuncional, de alterações significativas no contexto global e de fragilidades estruturais da economia e da sociedade portuguesas. Tais condições foram agudizadas pela crise financeira internacional de 2008 -2009, cujos efeitos se fizeram sentir em diferentes países do mundo, mas que afetaram de modo mais acentuado economias que apresentavam à partida maiores fragilidades. Assim sendo, é difícil sustentar que foram essencialmente os erros das governações anteriores – que existiram e não devem deixar de ser apontados – que nos conduziram à crise e ao recurso à assistência financeira externa.
Quanto à ideia de que andámos a viver acima das nossas possibilidades, simplesmente não se aplica à grande maioria das famílias portuguesas. De facto, em 2010, cerca de 63 por cento das famílias não tinham qualquer dívida aos bancos ou a outras instituições financeiras. A minoria que acede ao crédito em Portugal tem por objetivo a aquisição de casa própria (o crédito para consumo é residual), sendo quase sempre caracterizada por condições socioeconómicas acima da média (como é sabido, o acesso ao crédito é tipicamente dificultado pelos bancos quando se trata de trabalhadores de baixos rendimentos ou precários, estudantes, pensionistas, ou famílias monoparentais ou com desempregados). A demonstração disso é que os níveis de incumprimento no pagamento de empréstimos por parte das famílias têm sido historicamente reduzidos (a taxa de incumprimento aumentou para 6,6 por cento em 2012, um valor superior aos 4,4 por cento registados em 2008, mas ainda assim modesto).
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A combinação da denúncia e da proposta constitui um elemento fundamental da intervenção do Congresso Democrático das Alternativas, no seio do qual surgiu o projeto do presente livro. O Congresso afirma-se hoje como um movimento cívico de intervenção política não-partidária, que reúne cidadãos de diferentes orientações políticas, com e sem partido, visando a construção de denominadores comuns nas opções de política pública e nos processos de ação coletiva que fundamentem, dêem força e credibilizem alternativas políticas de governação. A expectativa dos autores é que este livro contribua ainda para gerar as convergências e a mobilização cívica necessárias para resgatar Portugal para um futuro decente.”

* "A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes" - Alexandre Abreu, Hugo Mendes, João Rodrigues, José Guilherme Gusmão, Nuno Serra, Nuno Teles, Pedro Delgado Alves, Ricardo Paes Mamede - (Edições Tinta da China) - Em venda com a edição portuguesa do "Le Monde Diplomatique" de Setembro.








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